sábado, 12 de setembro de 2015

Priscila Magella canta o Velho Chico

Foto: Leonil Junior
Por Ana Ferrareze 

Chora meu rio, chora. Chora minha alma, chora. Chora que eu já vou embora. Só vim aqui me despedir de mim. Canoeiro foi embora, vaporzeiro aposentou. Nestas lindas águas finas, o que resta é meu amor. Quem dera se todo mundo chorasse na beira d’água pra render mais um cadinho. E Oxum lá se banhasse e adocicasse cada lágrima pra caboclo banhar.

Priscila Magella tem uma relação de alma com o rio São Francisco. Nascida em Pirapora, ao norte de Minas Gerais, passou a maior parte da vida na companhia das águas que nascem na Serra da Canastra e passam por cinco estados brasileiros, desaguando no Oceano Atlântico, entre Sergipe e Alagoas. Na música Lamento ao Velho Chico, ela escracha um sentimento que inunda o coração. “Eu me sinto a voz do rio, sua representante”, diz. A cantora e compositora participou ativamente da luta contra a transposição do rio, em 2008, em Cabrobó, Pernambuco. E sente doído o Velho Chico indo embora aos poucos, por conta dos problemas ambientais que sofre, como desmatamento e poluição. “Vemos o mar invadindo o Chico, mas não há dor, ele quer ir embora. A gente comia, bebia, vivia nosso amor com o rio e para ele, conversávamos. É preciso entender esse sentimento, saber que antes era isso. Não queria que ele morresse jamais”, desabafa Priscila.

Foi mesmo o rio que ajudou Priscila a começar a cantar. Sem dinheiro para pagar aulas de canto, usava suas águas para afinar as cordas vocais, mexendo as mãos, percebendo seu barulho. A inspiração também veio de sua mãe, que sempre cantou muito em casa, e de seu tio Magela, o grande ídolo. Ele foi um dos maiores representantes da música barranqueira, que canta o cotidiano e sutilezas das comunidades ribeirinhas, estilo que Priscila também adotou, já que é “tudo o que sei, o que aprendi desde o começo”. O tio morreu quando ela tinha apenas seis anos, mas a conexão entre os dois permaneceu. Ele está vivo nas canções da mineira e em suas histórias, que sempre o citam. E também na luta pela música barranqueira, que resiste forte para continuar ecoando.

As composições e a voz de Priscila podem ser ouvidas no CD A Barranqueira, lançado em 2012, com 13 músicas de autoria própria, de Magela e de compositores como Pepeh Paraguassu e Paulo Vieira.

Priscila Magella e Mestre Zé Limão (Foto: Leonil Junior)
No Folclorata, ela faz a vivência com o Mestre Zé Limão, da Folia de Santos Reis de Doutor Campolina, do povoado Lagoa Trindade. “Minha infância foi na terra vermelha, como aqui. Vir aqui e conhecer a família de Seu Zé abriu um leque muito grande sobre cultura popular. Sem dúvidas, é uma das maiores experiências da minha vida. Estamos trocando, vivendo e convivendo”, declara. Sem dúvida ouviremos falar muito de Priscila Magella e de sua música barranqueira cantando o Velho Chico.

Ouça a música Lamento ao Velho Chico aqui.

Um comentário:

  1. Sou Piraporense de coração e alma. Conheci a Priscila Magela ainda criança, engatinhando e já tentando mostrar algum solfejo musical, pois, a convivência com o seu tio Geraldo Magela (cantor e compositor) e sua mãe Leninha (ótima cantora), a levava a tal iniciação. A menina cresceu e de repente se tornou uma cantora e compositora da melhor qualidade. A MPB circula no seu sangue, tanto quanto a MB (música barranqueira), pois, em ambas o seu conhecimento é predominante. Priscila, minha amiga, siga em frente porque você tem ainda uma vida inteira para mostrar a sua potencialidade para o público mineiro, brasileiro e se Deus quiser, também o internacional.

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