sábado, 12 de setembro de 2015

Quando o povo se une as coisas dão certo



Foto: Leonil Junior

Por Ana Ferrareze

“Quando o povo se une as coisas dão certo”. Este é o lema do Meninas de Sinhá, que se apresentou na noite de sexta-feira, 11 de setembro, no Folclorata 2015. Abraçadas, as 16 integrantes que vieram a Jequitibá bradam a frase três vezes, com força, mostrando sua união antes de subir ao palco. Quem a disse primeiro foi Dona Valdete Cordeiro, líder que fundou o grupo em 1989 e desde então mudou radicalmente a vida de dezenas de mulheres. Ela morreu no ano passado, deixando, além de muita saudade, inspiração para suas meninas e todas as outras que vivem neste Brasil patriarcal. 
 
As mulheres do grupo têm entre 54 e 95 anos. Todas as 23 moram no bairro Alto Vera Cruz, periferia de Belo Horizonte. Foi lá mesmo que tudo começou. Dona Valdete passava todos os dias em frente ao posto de saúde e se assombrava com a quantidade de remédios que as senhoras levavam na sacola para tomar. Teve a certeza de que aquilo não era certo: era coisa de cabeça, não necessidade. Juntou algumas delas para um bate-papo e fundou o, na época, Lar Feliz. “Logo mudamos o nome, já que este não tinha mais nada a ver com as mulheres que nos tornamos. Estávamos cansadas de trabalhar em casa, de ficar sem tempo para nos arrumar, nos divertir”, relembra Ephigênia Lopes, de 75 anos, a compositora do grupo. O Meninas de Sinhá tirou a maioria de suas integrantes do, como elas mesmas dizem, fundo do poço. “Sabe, eu não vivia, eu vegetava”, conta Maria Geraldina di Paula, de 76 anos. “Não gostava de sair de casa, de conversar com as pessoas. Mudei da água para o vinho”.

O grande objetivo do grupo é trabalhar a autoestima das mulheres, mostrando a elas e ao mundo seu enorme potencial, força e beleza. Desde o ano passado, mais um foi levado ao topo: não deixar o sonho de Dona Valdete morrer. Quando falam da líder, os olhos brilham. Ephigênia foi sua amiga de infância e acompanhou toda sua trajetória em prol da comunidade. Era ela quem ia atrás de políticos para resolver os problemas da região. No início, contratou professores para ensinar as Meninas a tocar os instrumentos. Algumas já sabiam e só aprimoraram a arte. Outras se descobriram na música.

Ephigênia Lopes (Foto: Leonil Junior)

Dorvalina Maria de Oliveira (Foto: Leonil Junior)
No show, elas sobem ao palco irradiando charme, com longas saias floridas, flor no cabelo e batom nos lábios. Com viola, pandeiro, zabumba, xequerê e sanfona, cantam e dançam antigas cantigas de roda e cirandas, releituras populares e letras de autoria de Ephigênia. Ela, inclusive, acabou de gravar seu primeiro CD, Viola Antiga, com samba, bolero, gafieira. “Desde que fundamos o grupo tenho inspiração demais pra escrever”, conta. “E abordo temas que envolvem a história do Brasil, o negro, a alegria de viver”. 

No meio do show de sexta-feira, Dorvalina Maria de Oliveira não se aguenta, pega o microfone e desabafa: “Antes eu tomava medicamento para dormir, para tudo. Em seis meses no grupo, ganhei alta do psicólogo. Andava despenteada, mas olha agora. Tô tão bonita, né, gente?”. E avisa: quem tem mãe mais “madurinha”, como elas, leve para cantar e dançar. “Vale mais que remédio”.


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